sábado, 29 de janeiro de 2011

A breve dor de um corsário

Camarada Luigi Rossetti

Apesar de sermos corridos no mundo inteiro, nunca fui homem de arrumar confusão por causa de mulher, você bem sabe disso, camarada. Corria, atrás de rabo de saia sempre descompromissado, sempre para aliviar as dores da guerra, o nosso verdadeiro problema sempre foi com os opressores, ou seja, com os monarquistas. Mas aqui nesse continente, devo admitir que meu foco tem desviado do habitual. Acredite companheiro, apaixonei-me, e não foi qualquer envolvimento, como as ragazzas de porto. A moça é sobrinha do presidente desta República, o Senhor Bento Gonçalves. A beleza desta menina, é sem igual, apesar dos quinze anos, seus olhos azuis e cabelos loiros deixam qualquer homem fora de si. A sua imagem serena, passa uma tranquilidade, que dá vontade de largar essa vida sanguinolenta. Além de toda beleza, é uma mulher como poucas para se prosear. Vive numa casa de sete mulheres, todas da família do Presidente, que você conheceu brevemente. O que me dói nessa alma de corsário, é conviver com a minha sina de não ter um só amor. Refiro-me ao medo desta moça, ela não seguirá comigo. Estou prestes a ir para Laguna, e o amor desta jovem não é o suficiente para fazer com que me siga pelos campos de batalha. Até entendo Manuela, além de mulher, é jovem demais pra arriscar a vida contra o Império. Mas questiono colega Rossetti, que mulher vai se meter por batalhas mundo afora comigo? Esqueçamos isso, temos motivos para nos alegrar.
Agora estamos em boa posição contra os Caramurus, já até traçamos um plano para conseguir uma saída para o mar. A vida segue meu amigo Rossetti, talvez a Província mais ao norte reserve alguma surpresa grata para nós. Espero notícias do recrutamento em Montevidéo, precisamos que você volte logo, dizem que homens letrados em Laguna, é coisa díficil de se encontrar.  


Giuseppe Garibaldi
Estância do Brejo, 20 de Janeiro de 1838

TOA

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