sábado, 3 de dezembro de 2011

Mateando

Como dói lembrar o ninho
Que o tempo levou na enchente
Mas porém deixou semente
De tristeza e de amargura
Pra reviver a ternura
De alguém que já foi da gente

É por isso meu Patrício
Que não mateio solito
Embora o verde bendito
Pra mim seja mais que vício
É o meu último munício
Que não despenso, nem largo
E peço a Deus
Sem embargo
Da xucreza do meu canto
Que no céu
Me guarde um santo
Parceiro pra um mate amargo

Jayme Caetano Braun

sábado, 16 de julho de 2011

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 10 de maio de 2011

O bom gelo

É ouvir aquele violino com som de neve e brotar aquela serrana nos pensamentos. Cada floquinho desce minuciosamente sobre o coração dela, o floco fica ali várias estações, é frio demais pra derreter. A tez dela é semelhante ao dito cujo, uma brancura e uma palidez aliados a uma beleza morta. Uma beleza que ensolarava o passado. De tão gélido, queimou tudo: plantas, mares, céus, cidades, amores etc. Sim, o gelo também queima, todavia, posteriormente anestesia deixando certos vícios como o de "não sentir mais nada". Assim vive alguns corações tocados por ela, congelaram-se, queimaram-se e anestesiaram-se, agora vivem a dor eterna, amortecidos pelo frio e sua compaixão.

TOA

Caixinhas

Certa feita, tiveram a ousadia de dizer-me que não existiam identidades fixas, tu te molda conforme o local que vive, ou seja, não se poderia colocar o ser humano em caixinhas e definí-los. Obviamente que isso foi um tapa na cara do gaúcho véio. Como alguém pode ousar mudar suas raízes por uma simples mudança geográfica? Tá Guampa! E a cultura não conta neste processo? Dou o braço a torcer e com remorso admito que nos moldamos, até certo ponto, conforme a sociedade em nossa volta. Entretanto, se nos moldamos ao que está em nossa volta, não seríamos seres fragéis, sem vínculo com alguma identidade, só esperando alguma cultura momentânea nos preencher? Entendo que não se pode colocar o ser humano em caixinhas e definí-las, pero, eu me julgo por caixinhas, mesmo sabendo que não é a maneira mais correta de se analisar aspectos sócio-culturais. Não me colocando em caixinhas, não tenho fronteiras, não tenho entre-lugares, não tenho nada para identificar-me. Homem sem pago e sem querência é coisa de pós-moderno, e essa marola pós-moderna, logo vira "marolinha".

TOA

segunda-feira, 28 de março de 2011

Palavras perfumadas

E assim abriu a boca novamente
Palavras de um perfume estonteante
Palavras que fazem lembrar um passado não vivido
As palavras dela voltaram
Instigando minha eterna doença
Não voltaram para o gozo
Palavras embebidas de indiferença
Palavras que já tem seu destino traçado
Um ouvinte tolo sabendo o que esperar
Mesmo sabendo, ele está sedento por elas
Causam dores impossíveis
Impossíveis de não querer sentir
A palavra dela voltou
E junto o antagonismo reaparece
O antagonismo do ódio.

TOA

sábado, 26 de março de 2011

Como virei padrinho

Certa feita, tomava um mate e analisava o que se passava do lado de fora da minha janela. O tempo era daqueles cinzentos, um minuano de renguear os pêlos assoviava nas frestas do meu Rancho, e uma lluvia fina, entretanto incansável, caía sobre o pasto. Já fazia um bom tempo que não escutava resmungos vindos de gentes, e tão pouco era escutado tamanho o meu exílio. Entonces, eis que tinha cansado do silêncio. Tinha acendido uma vela pro Negrinho, precisava achar algo pra acabar com o vazio que assolava meu Rancho Sólito. O Negrinho nunca falhou, e logo achei o que procurava. Depois de alguns anos vivendo silenciosamente, voltei a escutar e a conversar com alguém. Na realidade falava com sete pessoas, cada um tinha um tom de voz diferente, combinavam-se em ritmos, oras lento, oras acelerado. Os sete irmãos levavam na identidade o sobrenome de cordas, "Os Sete Cordas". Creio que tenham sido os únicos viventes que aguentaram minhas lamúrias e alegrias de pinguço. Mas como tudo tem seu ciclo, os sete irmãos enjoaram de mim, e logo voltaram pra sua terra. Fiquei extremamente deprimido até conhecer uma grande amiga, seu nome era gaita. 
Passaram alguns dias, e a falta dos sete irmãos era grande, mesmo com a gaita os sete irmãos ainda deixavam um vazio dentro de mim. Não sabia se a recíproca era verdadeira, então resolvi arriscar uma nova prosa com os sete gurizotes. Além de reatar meus laços com meus antigos amigos, acabei apresentando os sete irmãos a minha nova companheira de mate, e então aconteceu algo inesperado, os sete irmãos se apaixonaram pela gaita. A sintonia dos sete irmãos com a bela gaita era tão grande, que não gerava tipo algum de ciúme entre eles. Desde o dia em que os apresentei nunca mais se separaram. E eu fiquei aonde em tudo isso? De padrinho, escutando ambos todos os dias.

TOA

domingo, 6 de março de 2011

Una Chica por un Cavallo

O causo que conto aconteceu na velha Itaqui no ano de 1963. Na cidade nada acontecia já fazia um bom tempo, o ritmo acelerado de êxodo tinha dado trégua, agora tudo se adequava, obviamente longe da paz de algumas décadas anteriores. Certa feita, numa destas noites estreladas de verão, aparece na cidade um Castellano das bandas da Argentina. Rapaz com uma postura imponente devido a sua cara fechada e seu tamanho desproporcional, foi logo ao primeiro bochincho que encontrou na pequena cidade. Quando entrou falou grosso: "Vendo caballos! Pero hoy, quiero cambiar pelas chicas de ustedes". A Gaúchada olhou incrédula para o forasteiro, admirando tamanha coragem do Chirú em provocar o Bochincho inteiro. Entre vários resmungos eis que surge a figura de Gerôncio Monte, um Gaúcho pra lá de vivido, este, levantou-se e respondeu: "Hijo, se quieres una Chica, yo puedo cambiar por um cavallo". 
Como a palavra era algo de se levar muito em conta por estas terras, Gerôncio logo ofereceu sua filha, uma jovem que não tinha mais que seus vinte anos. O trato foi feito no escuro. O Argentino lhe ofereceu um Pangaré, um pingo muy bem adestrado. Gerôncio por sua vez, deixou apalavrado que seu Negro levaria sua filha até o forasteiro dentro de no máximo dois dias. Estourando o prazo, o Negro surge no local de hospedagem do Argentino. Conduzia-o calmamente. Já muito impaciente, o Argentino pensava não existir China alguma. Após alguns minutos andando o Negro Bastião chega até o cemitério local de Itaqui. Sem entender nada, o forasteiro começa a fazer perguntas ao Negro, então este trata de acalmar os ânimos do Castellano com respostas evasivas. Adentrando ao cemitério para surpresa do Argentino, eis que o Negro apresenta um túmulo com os seguintes dizeres: "Jaz aqui, Elena Monte 24-11-45 -- 24-11-63". Então o Negro retirou-se dizendo: "É toda sua Castellano." O Argentino não ficou aborrecido, ficou enlouquecido, pois o dia em que visitou o túmulo, era o dia 25-11-63, algo estranho rondava este causo.

TOA   

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Mais um pingo xucro

Após horas e horas guiando os fletes para o cercado, o gurizote chega em casa. O sol ia se colocando num vermelho daqueles paralizantes, só acabando com o frenesi dos que miram, com a chegada da noite lobuna. Seu cansaço é ignorado, seus pais são ignorados, até o prato de comida é deixado de lado. Algo o atormenta demais para deixá-lo sentir a exaustão de seu corpo. Os pensamentos do malevo andam longito, e não envolvem cavallos, muito menos apostas. O motivo de tanta inquietação deste rapaz tem nome e tamanho. Uma China, mas uma China pra lá de guapa, beleza de fazer qualquer pingo xucro se curvar. O porquê de tanta revolta do gurizote? Ele é mais um pingo xucro que se curva, ao invés de domá-la.  

TOA

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Apressado!

Uma caneta sem tampa
Alguns livros fechados fitando-me
O celular em cima do caderno
O óculos torto ao lado de algumas pilhas velhas
O tempo passando rapidamente
Uma gaita insistindo em ser escutada
Uma voz falando do campo
Falando de amor
Quase tudo fazendo sentido
Os objetos, o campo, talvez até o amor
Mas e o tempo?
Porque tanta pressa?
Será alguma rusga com alguns de meus objetos?
Será que não gosta da gaita ou do que o milongueiro fala?
Ou o problema seria eu?
Quem o tempo odeia pra querer passar tão rápido?


TOA

sábado, 29 de janeiro de 2011

A breve dor de um corsário

Camarada Luigi Rossetti

Apesar de sermos corridos no mundo inteiro, nunca fui homem de arrumar confusão por causa de mulher, você bem sabe disso, camarada. Corria, atrás de rabo de saia sempre descompromissado, sempre para aliviar as dores da guerra, o nosso verdadeiro problema sempre foi com os opressores, ou seja, com os monarquistas. Mas aqui nesse continente, devo admitir que meu foco tem desviado do habitual. Acredite companheiro, apaixonei-me, e não foi qualquer envolvimento, como as ragazzas de porto. A moça é sobrinha do presidente desta República, o Senhor Bento Gonçalves. A beleza desta menina, é sem igual, apesar dos quinze anos, seus olhos azuis e cabelos loiros deixam qualquer homem fora de si. A sua imagem serena, passa uma tranquilidade, que dá vontade de largar essa vida sanguinolenta. Além de toda beleza, é uma mulher como poucas para se prosear. Vive numa casa de sete mulheres, todas da família do Presidente, que você conheceu brevemente. O que me dói nessa alma de corsário, é conviver com a minha sina de não ter um só amor. Refiro-me ao medo desta moça, ela não seguirá comigo. Estou prestes a ir para Laguna, e o amor desta jovem não é o suficiente para fazer com que me siga pelos campos de batalha. Até entendo Manuela, além de mulher, é jovem demais pra arriscar a vida contra o Império. Mas questiono colega Rossetti, que mulher vai se meter por batalhas mundo afora comigo? Esqueçamos isso, temos motivos para nos alegrar.
Agora estamos em boa posição contra os Caramurus, já até traçamos um plano para conseguir uma saída para o mar. A vida segue meu amigo Rossetti, talvez a Província mais ao norte reserve alguma surpresa grata para nós. Espero notícias do recrutamento em Montevidéo, precisamos que você volte logo, dizem que homens letrados em Laguna, é coisa díficil de se encontrar.  


Giuseppe Garibaldi
Estância do Brejo, 20 de Janeiro de 1838

TOA

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dos enganos da beleza

Uma rosa de um vermelho encantador e laceros doloridos
Isolada em um manantial ou em uma cidadela qualquer
Pouco importa onde está, sua falta de essência é semelhante
Alimentada por um mistério, ou será que é realmente alimentada?
A natureza de ambos os locais reservaram toda sua beleza a pobre rosa
Fisionomia eterna, intacta, sempre com sua luxuosa decadência
Decadente de seus sentimentos cíclicos, decadente por todos os quases 
Assim vive machucando-se com seus próprios espinhos
Sempre encantadora aos olhos de quem vê
É uma maldição possuí-la
É um sacrilégio querer sua beleza
Sacrilégio, não por querer sua beleza
Sacrilégio por querer sua matéria
Eterna para quem a vê de longe
Podre, para os que foram além do olhar


TOA

sábado, 22 de janeiro de 2011

Uma Princesa

Negra como à noite estrelada
Alegria que de tão contagiante, fazia me sentir menos humano
E é bom ser igual a cusca, somente movido a emoções
Não era eu o dono dela, e sim ela meu dono
Um uivo, e o final de uma história
Um final que antecedia um novo começo
Ela vive, eu a sinto, eu a vejo em meus sonhos
A chuva continua no seu lugar
O portão barulhento é o mesmo
Ela só deixou de esperar-me quando chego do colégio
Não, ela não morreu
Ela só exige mais tempo comigo
Por isso, dei a ela meus sonhos
Era única forma de retribuir toda aquela alegria
Alegria, de uma eterna Princesa
Viva, em meus sonhos

TOA

domingo, 16 de janeiro de 2011

Uma reinvidicação justa.

Gostaria de evitar a minha doença por futebol neste blog, porém, "O vício é que nem sarnoso, nunca para, nem ajeita". Os significados que o Campeonato Gaúcho trazem este ano, faz com que o Campeonato de todos os Gaúchos, volte a ser de todos os Gaúchos. Faço uma crítica àqueles que acham o futebol  Rio Grandense,  escravos dos dois clubes de Porto Alegre, ou melhor dizendo, vive somente de paixão azul e vermelha. Nos dois últimos anos, o campeonato Gaúcho dividiu-se em dois turnos, cada turno fazendo homenagem aos presidentes campeões mundiais, ambos representantes dos clubes da capital. Pelo Inter o homenageado era Fernando Carvalho, e pelo Grêmio, Fábio Koff. Nada contra os dois dirigentes e muito menos contra os clubes, a questão que se deve ressaltar, é que o futebol do Rio Grande do Sul é muito maior que Inter e Grêmio. Este ano o campeonato finalmente fará homenagens justas, homenagens que de alguma forma atende a todos que participam do torneio, lembrando que esta homenagem vai além dos clubes que participam, agora é incluído aquele que dá vida ao futebol, o torcedor Gaúcho. O primeiro turno, leva o nome de Taça Piratini, fazendo alusão a um dos municipios mais antigos do Rio Grande do Sul, e capital da efêmera República Rio Grandense. O segundo turno leva o nome de Taça Farroupilha, uma homenagem direta aos "Gaúchos e gaúchas e todas as querências". Finalmente, o senhor Francisco Noveletto, presidente da Federação Gaúcha de Futebol, viu que este esporte vai além de Porto Alegre, já estava na hora de atender as reinvidicações dos clubes interioranos. Agora, resta torcer por um excelente campeonato de todos os Gaúchos, onde até banco que se julgava de todos os Rio Grandenses, expandiu fronteiras além da capital.   

TOA

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Eu choro, tu chora, ela chora...

- Não aguento mais Chiló! Essa guria anda pra cima e pra cima e baixo com o Nico.  Isso tá demais, ela não respeita o que eu sinto por ela.
- Olhá  lá hein Moringa, o Nico é dobro do teu tamanho, se ele te pega, te caga a pau. Além do mais, vocês eram amigos, brigar por causa de rabo de saia é a maior besteira.
- Amigo Chiló?! Esse guampa torta, sempre soube que eu amava essa guria. Por que haveria eu de respeitar agora, se ele não me respeitou antes?
- Moringa, tem tanta prenda por esse mundo, porque queres justamente essa tola da Manuela? Isso não vale as China lá do Bochincho do Chico Bafo.
- Chiló, se ela vale ou não vale as China daquele Bochincho, isso não é problema teu, o que importa é o que sinto por ela. Hoje eu arranco um beijo dela, e nunca mais ela vai querer saber do Nico.
- Olhe lá hein Moringa, quem avisa amigo é. 
- Tô tranquilo demais da conta Xirú.
Passado o dia, o feito de Moringa se concretiza.
- Chiló, consegui o que eu queria, mas ela continua gostando do Nico, o que eu faço?
- Eu te avisei Moringa, dê sorte do Nico não ficar sabendo, pra você não arrumar confusão.
- Confusão nada Chiló, agora estamos quites, porém, eu fiquei de mãos abanando e ele ainda tá com ela.
- Moringa véio, te aquieta meu bruxo, afinal de contas, como você pode gostar tanto dessa guria, se nem ao menos você teve alguma espécie de relacionamento com ela.
- Chiló, isso que me espanta, eu justamente queria ter um relacionamento com ela, pra deixar de amar essa rapariga. Essa pendenga tem que acabar, e vai acabar, mas só o tempo é que vai dizer quando, meu amigo. Pelo menos eu consegui algo dela, que me diferencia de qualquer pessoa normal, meu amigo Chiló.
- E o que você conseguiu Moringa? 
- Ela me odeia.
- Quê?!
- Ela pode não me amar, mas seu ódio é barbada de sentir quando me aproximo.
- E o que isso tem de bom Moringa?
- É igual um jogo de futebol Chiló, quando você perde, você começa a apelar, a descer a porrada no adversário, o sentimento com ela é parecido, já que eu não posso conduzir do meu jeito, então que ao menos, não seja do jeito dela.
- Mas porque criar esse tipo de sentimento em uma pessoa que você ama tanto?
- Chiló, o mais humilhante não é não ser amado pela pessoa que você ama, e sim ser desprezado, e isso, eu consegui evitar. Bora praquele bochincho!

TOA

A lamúria pelo êxodo urbano

Gerôncio Monte Filho

Como em todas manhãs, coloquei a pilcha véia, cevei aquele mate e fui-me trotear pelo mundão. O que a cada dia fica mais estranho é o caminho que faço com meu baio. Antigamente o passeio pelo campos eram limpos, só se via mato e quero-quero. Esse negócio de modernizar o campo, ideia destes frescos da capital, tem me tirado o sossego. Primeiro eles veem querendo acabar com as nossas terras, dividir, eles chamam de reforma agrária. Esses brasileños não aprenderam que essas terras não se dividem, sempre foi assim, e não é agora que vai mudar. Apesar desses Haragano quererem se meter a galo aqui, eles trouxeram coisa decente: agora não tenho que correr aquela campanha toda atrás de uma canha, agora tem bolicho por tudo que é lado, tudo é perto, hospital pros piazito, apesar que isso já é meio afrescalhado, se o véio  aqui se criou a base de junjo, essa gurizada também pode se criar. Outra coisa que me incomoda, é esses padre guampudo, esse negócio de igreja é uma mentira inventada pra gineteada gastar sua miséria que ganha, em troca, dizem que é salvo. Eu só não meto o chumbo nessas praga, porque a peonada, por culpa de suas señoras, acreditam nesses negócio de Religião, de mim, esses salafrários não tiram um tostão. Querem agora eleger político aqui na região, através de eleição, aonde vamos parar com tudo isso? O pessoal é mal agradecido, esquece de quem ofereceu emprego, e agora querem nos tirar da política sem mais. Assim que voltares, conversaremos mais sobre isso, até porque, teu estudo é pra manter o que é nosso. Piazito, te cuida no meio desse pessoal, essa gente da capital não é de confiança. Como andam os estudos? A tua mãe aguarda uma carta tua, já me aporrinhou pra escreve esse troço aqui, no mais tudo tranquilo. Teu pago mudou muito, tá cada vez mais agitado, acho que o mundo tá ficando sem espaço, e esses guampa furada tão se tocando pra cá, além de se meter onde não são chamado, tão fazendo a cabeça da nossa gente. Eles podem até ficar tropeando por aqui, mas na nossa terra, quem botar os pés, sai a paulada. 

Hasta luego piazito!

Gerôncio Monte
Itaqui, 13 de Fevereiro de 1961 


TOA

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Voltaremos!

"O desenvolvimento é uma integralidade cultural, social, política, que ao mesmo tempo que promove as mutações na economia, na esfera das finanças, na esfera das relações materiais, também promove as mutações na esfera da subjetividade, da compreensão, da cultura, do civismo. Lembrei essa frase, essa formulação do San Tiago Dantas, porque quero me referir, no meu discurso, a três brasileiros que têm um significado especial para o nosso Rio Grande, para muitos de nós aqui, e têm um significado muito importante para este governador que vos fala. São todos personagens do século passado, mas o passado nutre o presente e engravida o futuro. Por isso a lembrança desses três grandes brasileiros - são dois gaúchos - é importante para este momento de promoção, de uma recoesão, de uma nova identidade política, econômica e cultural para o Estado com a qual nós estamos comprometidos. O futuro fica mais cristalino quando a nossa reflexão se apoia naqueles que nos precederam e naqueles que foram exemplo para o nosso comportamento e para a nossa vida política.
O primeiro é Erico Verissimo, que abriu os olhos de todos nós para o significado do Rio Grande. Que no seu Tempo e o Vento promoveu um autorreconhecimento do Rio Grande do Sul, que formulou com sua literatura provavelmente a obra mais profunda da nossa identidade moderna e que nos apresentou o Rio Grande guerreiro, lutador, construído processualmente por muitas contendas, por muitas revoluções e por muitas generosidades e acordos. Depois de Erico Verissimo foi sendo construído pelo Assis Brasil, que está aqui, pelo Tabajara Ruas, que nos apresentou de maneira profunda também os lanceiros negros de David Canabarro, e que compõem a nossa memória e que também compõem o nosso compromisso com o futuro do Estado.


Parte do discurso de posse do Governador Tarso Genro.

1/1/11


Com o senhor mesmo disse, "O passado nutre o presente e engravida o futuro". Boa sorte, Presidente da minha Província!